Valda nasceu num pequeno povoado de Piritiba. Sem nenhuma escola por perto, ela só sabia contar dinheiro e ver as horas, para ajudar o pai. Quando tinha sete anos, uma beata passou por lá com um panfleto da igreja e atiçou a menina para que estudasse. Ela passou a ir até a cidade e a frequentar uma banca onde aprendeu a contar, a copiar o nome, a ler e a escrever. Não largou mais os livros.
Aos 15 anos, Valda veio para Salvador para trabalhar como cuidadora de idosos. Foi também caixa, costureira e ajudante de hospital até se formar professora, atividade que exerce há 20 anos. Entre uma aula e outra, ela ainda virou atriz. Já participou de alguns espetáculos e participou do filme Irmã Dulce.
Pós-graduada em história da África, Valda reverencia a história do seu povo na maneira como se veste e também na postura em sala de aula. Adora falar sobre negritude e não se intimida nem quando o tema é religião. “Já houve casos de cartazes serem retirados, mas hoje ninguém mais faz isso. Na minha sala, não existe mais problema de discriminação racial. Com os adultos, às vezes, é que é mais difícil”.
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Festejos juninos na Escola Municipal Engenheiro Gilberto Pires Marinho em 2015. |
Assim, Valda França com suas inúmeras vivencias se destaca, também, no âmbito educacional. Professora da rede
municipal de ensino de Salvador há oito anos que antes percorria comunidades para
trazer de volta para a sala de aula alunos que tinham desistido da escola, num
projeto do Ministério da Educação em parceria com o Sesi (Serviço Social da
Indústria). Para combater o analfabetismo e a evasão, fazia peças de teatro e
lia histórias. Acaba levando parte dessa
experiência para seu trabalho na rede educacional de Salvador, onde dá aulas para crianças do
1o ao 5o ano da
Escola Engenheiro Gilberto Pires Marinho localizada na Boa Vista do Lobato (bairro
periférico de Salvador) com a preocupação constante de buscar estratégias que visam a aproximação com as famílias de seus educandos para minimizar esses problemas percebidos quando algum deles começa a faltar ou a ir mal nos
estudos.
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Turma do 2º ano A do Ensino Fundamental I em 2015 na Escola Municipal Engenheiro Gilberto Pires Marinho que tem como como professora regente Valda França. |
Além das aulas regulares, ela
também levou para a escola o projeto “Hoje menina, amanhã mulher”, do Fundo
Municipal para o Desenvolvimento Humano e Inclusão Educacional de Mulheres
Afrodescendentes (FIEMA). Aos sábados, reúne a comunidade numa aula de
cidadania para falar sobre empoderamento das meninas e mulheres negras, além de
ensinar dança popular.
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Valda Atuando no Teatro. |
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Valda participando da aula de Educação Física. |