domingo, 13 de outubro de 2024

Qualidade na educação brasileira com diretrizes internacionais?



Para pensar educação no Brasil, sobretudo as aulas de educação física nas realidades do cotidiano das escolas que trabalho, é importante reconhecer os impactos da internacionalização das políticas educacionais. Dessa forma é possível compreender uma dimensão que visa romper com a ensino tradicional e apontar objetivos educacionais impregnado por uma dinâmica neoliberal que se disfarça atras de uma ideia de a escola pretende promover o desenvolvimento dos/as estudantes para a aquisição de habilidades para a vida.

Por alguns anos de vivências em diferentes espaços escolares da rede pública estadual da Bahia é perceptível o aumento dos desafios de ser professor. Com a leitura da produção de Libâneo (2016) que discute o impacto da internacionalização das políticas educacionais para a definição de objetivos educacionais escolares conseguimos compreender algumas das circunstâncias que geraram a ampliação dos desafios na atuação docentes na atualidade.

A influência de organismos internacionais como o Banco Mundial e a UNESCO, segundo Libâneo (2016), vem determinando políticas educacionais atreladas à difusão do neoliberalismo no Brasil. Gerando consequências negativas como a redução das responsabilidades estatais por meio da privatização dos serviços educacionais, instituição da meritocracia em diversas instâncias do sistema educacional entre outras ações voltadas para a lógica da lucratividade e competitividade.

Dessa forma Libâneo (2016) expressa que muitas problemáticas da realidade atual da educação é fruto de um projeto educativo com interesses corporativos empresariais definido muito antes das decisões sobre as políticas educacionais, que nas últimas décadas vem ganhando corpo. Nos dois governos do presidente Fernando Henrique Cardoso foram feitas adequações nas políticas públicas às demandas do capital financeiro internacional. No Governo Lula houve continuidade a essas políticas, mas foi percebido a atenção à algumas demandas sociais. Lula e Dilma Rousseff buscaram melhorar a qualidade da educação básica articulando metas com entidades empresariais.

Ainda conforme Libâneo (2016), um dos programas mais relevantes na gestão dos representantes do Partido do Trabalhadores na presidência nacional foi a introdução do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), incorporando os indicadores da OCDE, com a finalidade de avaliar a qualidade da educação. As consequências dessa busca por uma melhoria da qualidade da educação, nesse contexto, ficam subordinadas às intencionalidades dos organismos internacionais e empresariais. Refletindo nas determinações que forçam práticas pedagógicas que trabalhem para melhorar os índices e reduz à transmissão as possibilidades de experiências de ensino e aprendizagem. Os professores passam a ter profissão esvaziada à medida que perdem sua autonomia na medida que o currículo se reduz a metas e competências quantificáveis.

Charlot (2005 apud Libâneo, 2016) rejeita essa realidade de educação imposta pelos organismos internacionais porque produz a ocultação da dimensão cultural e humana da educação. Assim, é necessário que tenhamos uma visão crítica acerca das políticas educacionais para que identifiquemos brechas que ajudem evitar a subordinação a esses processos neoliberais.

Talvez esse cenário revele um dos motivos que justificam a atual condição da Educação Física escolar brasileira que enfrenta diversos desafios que, segundo Costa e Silva (s/d) demandam adaptações aos professores no desenvolvimento do trabalho pedagógico e, consequentemente, afetam o aprendizado do aluno.

Para tanto, a compreensão das formas de atuação de organismos internacionais na definição de objetivos educativos escolares e seu impacto nas políticas educacionais brasileira, ajudam na identificação de como a educação nacional vem sendo reduzida a uma condição de mercadoria decorrente do neoliberalismo.

Precisamos ter cuidado com os argumentos de exaltam a qualidade da educação extraída das diretrizes de organismos internacionais pois elas se contradizem numa visão emancipatória do processo educacional em razão de sua subordinação à lógica do mercado e aos interesses da globalização do capital. Além de ser uma ameaça ao ser humano e sua universalidade, sua diferença cultural, esses argumentos vêm gerando um reducionismo formativo nas escolas e, principalmente, ampliando as problemáticas e a precarização acerca das práticas pedagógicas na educação física escolar, com vistas que as avaliações e intencionalidades desses moldes neoliberais desconsideram a importância das diversas manifestações da cultura corporal.

Atividade da disciplina 04 do Programa de Mestrado Profissional em Educação Física desenvolvido na UESB-BA. Produção do discente da turma 05: Marielson Nascimento Alves.

REFERENCIAS

LIBÂNEO, José Carlos. European Journal of Curriculum Studies, 2016 Vol. 3, No. 2, 444-462 School educative aims and internationalization of educational policies: impacts on curriculum and pedagogy Libâneo, José Carlos Pontifícia Universidade Católica de Goiás.

COSTA, Gustavo De Conti Teixeira; SILVA, Rodrigo Márcio de Oliveira e. Métodos de ensino na Educação Física: um olhar para abordagens contemporâneas. Disponível em: https://edutec.unesp.br. Acesso em 01. out. 2024.