quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Branquitude e Branqueamento & Boa esperança

Produção feita por Marielson N. Alves como etapa do processo formativo do componente curricular: Questão Racial, Cultura e Diversidade referente ao curso de Especialização em Políticas Públicas, Infâncias, Juventudes e Diversidade com a supervisão da professora Marjore Chaves da Universidade de Brasília.

Este texto visa apresentar algumas conexões entre algumas percepções a partir da leitura do artigo Branqueamento e Branquitude no Brasil de Maria Aparecida Silva Bento (2002) e a análise da letra e do videoclipe oficial da música Boa Esperança de autoria do Leandro Roque de Oliveira (rapper, cantor e compositor Emicida).

Uma temática perceptível na leitura do artigo, da letra da música e do vídeo clipe acima mencionado é trato das relações raciais no Brasil e a reprodução do racismo com conexões de elementos que indicam alusões ao período de escravidão e o estimulo à análise crítica das realidades. Segue recortes de uns dos trechos da letra da música do Emicida, lançada em 2015, que expressam resgate histórico e representam a realidade contemporânea:

“... E os camburão o que são?
Negreiros a retraficar
Favela ainda é senzala...”

 

“... O tempero do mar foi lágrima de preto
Papo reto, como esqueletos, de outro dialeto
Só desafeto, vida de inseto imundo
Indenização? Fama de vagabundo
Nação sem teto, Angola, Ketu, Congo, Soweto...”

 

Uma representação da construção do imaginário negativo sobre o negro que dialoga com as ideias acerca da branquitude citada pela Bento (2002, p.2-3).

Como desdobramento da temática que percebemos podemos destacar a discriminação racial e a defesa de interesses do branco. Para Bento (2002, p.4)  essa discriminação se apresenta como uma forma de manutenção e conquista de privilégios. O que instiga a refletir acerca da parte inicial do refrão da música com possíveis conexões com ideia de manutenção de interesses do branco: “... Pra sua guerra vão nem se lixar, Esse é o X da questão...”. E, também, com a ideia de discriminação racial evidente no trecho: “...Médico salva? Não! Por que? Cor de ladrão...”.

Como um dos aprofundamentos do texto da Bento (2002, p.5) temos o conceito de exclusão moral a desvalorização do outro como pessoa e como ser humano. Fica perceptível exclusão em partes da letra da música do Emicida, mas a cena da mulher jovem negra que se apresentou com autoestima elevada foi assediada pelo senhor branco e em seguida a senhora branca a empurrou a jovem negra na parede e retirando o batom. Gerando indignação e desvalorização moral, onde o foco é a negra e há um silenciamento do branco.

Nesse contexto ainda podemos analisar criticamente a culpabilização da população negra em diversas problemáticas sociais enquanto o papel ou a intervenção do branco nessas situações pouco são discorridas e marca existente abismo das desigualdades raciais e das diferenças de classe.

Para tanto, a busca de respeito aos negros e reconhecimento de seu real valor histórico e social são convergências nos textos analisados e auxiliam a compreender os sistemas de dominação do pondo de vista do dominado.  

REFERÊNCIAS

BENTO, Maria Aparecida Silva. Branqueamento e branquitude no Brasil. In: Psicologia social do racismo – estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil / Iray Carone, Maria Aparecida Silva Bento (Organizadoras) Petrópolis, RJ: Vozes, 2002, p. (25-58). Acesso em: 18. Jan. 2021. Disponível em: http://www.media.ceert.org.br/portal-3/pdf/publicacoes/branqueamento-e-branquitude-no-brasil.pdf

DE OLIVEIRA, Leandro Roque (Emicida). Música: Boa Esperança. Acesso em: 14. Jan. 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=AauVal4ODbE&feature=emb_logo