domingo, 14 de fevereiro de 2016

JOGOS, BRINCADEIRAS E RECREAÇÃO: Letrando com ludicidade.

INTRODUÇÃO
As vivências no curso de Alfabetização e Letramento com a disciplina Praticas de Jogos e Recreação tem a intenção de aumentar o estimulo e reflexão acerca da importância do lúdico na construção do processo de ensino e aprendizagem na educação, que é de suma importância para todos os pedagogos, professores, comunidade, escola e familiares que tenham a intenção de educar. Assim,  com um encontro dinâmico e contextualizado, o professor Marielson Alves, visando a valorização do resgate de experiências, da criatividade e do espírito de liderança para compreender o que for trabalhado nesse encontro, afim de, identificar a importância de conhecermos ou reconhecermos os jogos, brincadeiras e recreação na sociedade. Levando em consideração que são elementos da cultura corporal de movimento e linguagem e fazem parte da construção social e cultural da humanidade.

LÚDICO
O lúdico é uma manifestação cultural que permeia várias dimensões da vida humana, assim, vários autores já investigaram o fenômeno lúdico a fim de compreender suas características e significados e ao mesmo tempo, buscar um conceito que pudesse melhor exprimi-lo.
Umas das principais referências para este estudo é Huizinga (2000), que identifica o lúdico em diferentes esferas da vida social e é parte integrante da vida em geral, possui um caráter desinteressado, gratuito e provoca evasão do real. Já Bruhns (1993) concebe a atividade lúdica como pratica real das relações sociais, como produto coletivo da vida humana, podendo se manifestar no jogo, no brinquedo e na brincadeira, desde que possua características como desinteresse, seriedade, prazer, organização, espontaneidade. Sendo fundamental a dimensão corporal. Oliveira (1984) complementa que o lúdico no brinquedo enquanto exercício individual carregado de emoções, densidade, enigmas e significados, algo que provoca o imaginário e a sensibilidade da criança, fornecendo-lhe subsídios para a sua inserção na realidade.
Alguns autores consideram como fenômeno restrito a uma fase da vida, a infância, quando o jogo, o brinquedo e a brincadeira ainda funcionam como elos mediadores da criança com o mundo. Operando-se um reducionismo que desconsidera o lúdico em sua constituição social, histórica e cultural. O lúdico não se vincula exclusivamente a cultura infantil, embora, paradoxalmente, até mesmo das crianças tem sido “roubado”. Marcellino (1997) identificou essa problemática ao analisar as relações entre lazer, escola e processo educativo.
Infelizmente com a realidade de exclusão, marginalidade e desigualdade social historicamente construída um nosso país muitas crianças são privadas de vivenciar a cultura lúdica em troca de sua “inclusão precoce e criminosa no mercado de trabalho”. No caso das grandes cidades a manifestação do lúdico tem sido cada vez mais controlada e confinada a determinado tempos, espaços e praticas. Sofrendo influencias de meios de comunicação, do contexto da comunidade ou da lógica de mercado.

JOGOS
Alguns autores como João Batista Freire, admitem que o ser humano é lúdico, portanto o jogo seria inerente à sua existência. Não é a toa que o jogo é considerado um patrimônio da humanidade. Eles são muito parecidos com as brincadeiras que fazemos desde crianças, mas têm regras próprias que devem ser respeitados para que eles possam ocorrer, havendo a possibilidade de altera-las sempre que necessário afim de, tornar a vivência mais divertida.
Nos Parâmetros Curriculares de Educação Física a palavra jogo é representa por uma infinidade de significados de acordo com o contexto. Permitindo uma flexibilidade de regulamentações que o esporte não admite, os jogos podem compreender diferentes espaços, materiais, tempo, número de participantes, podendo ainda se manifestar nas formas competitiva, cooperativa ou recreativa. Assim, podemos incluir entre os jogos e brincadeiras populares, os jogos de salão, de tabuleiro, grande jogos (queimada, pique-bandeira), jogos de construção, jogos de faz de conta, jogos de imitação e as brincadeiras infantis de maneira geral.
O Jogo é entendido como um instrumento do lúdico. No caso da tipificação devemos considerar as dimensões de “forma do jogo” e “modo de jogar” para favorecer uma análise critica e criativa da atividade lúdica que seja desenvolvida nas aulas.

BRINCADEIRA
Para Barreto (1998), brincadeira é a atividade lúdica livre, separada, incerta, improdutiva, governada por regras e caracterizada pelo faz de conta. É uma atividade bastante consciente, mas fora da vida rotineira e não séria, que absorve a pessoa intensamente. Sá (2005) indica que brincar é algo intrínseco à vida de toda criança, um processo que vai se desenrolando em seu curso, no tempo e no espaço, e no qual estão contidos aspectos físicos, emocionais e mentais, de forma individualizada ou combinada. E Debortoli (1999) complementa que brincar, brincadeira e gesto lúdico devem ser entendidos como “dimensão da construção da linguagem humana, ou seja, como possibilidade de expressão, representação, significação, ressignificação e reinterpretação da e na cultura”.

BRINQUEDO
O brinquedo é o instrumento do brincar, geralmente introduzido na cultura da criança pela mão do adulto. Kishimoto(1998) acredita que o brinquedo estimula a inteligência, fazendo com que a criança solte sua imaginação e desenvolva a criatividade. O brinquedo diminui o sentimento de impotência da criança, pois, ao manipulá-lo, ela cria situações novas, reconhece outras, compara, experimentam, desenvolve sua imaginação e habilidades.
Para tanto o brinquedo é o suporte do jogo e da brincadeira, é o objeto que desperta a curiosidade, exercita a inteligência, permite a invenção e a imaginação e possibilita que a criança descubra suas próprias capacidades de apreensão da realidade. Ele permite, pois, à criança, testar situações da vida real ao seu nível de compreensão, sem riscos e com controle próprio.
Vocês já confeccionaram seus brinquedos? 

RECREAÇÃO
Compreender a recreação em seu desenvolvimento histórico e cultural é reconhecer o próprio percurso da educação física, uma vez que, no Brasil, o incremento de praticas recreativas foi responsável pela criação dos cursos de formação profissional em Educação Física (Wernerck, 2000). Talvez, por isso, seja ela uma das atividades mais reconhecidas no campo, embora também uma das mais polêmicas e confusas.
A recreação esta intimamente relacionada à historia da educação, da escola e do ensino público primário.  Sua ocorrência pôde ser observada ao longo de todo o século XIX.
A recreação aparece como importante instrumento pedagógico, cuja orientação era disciplinar o corpo no sentido de que, no tempo livre, não se flexibilizasse com a preguiça. Ela se configura como estratégia de controle dos tempos, espaços e praticas realizadas na escola.
Recreação foi um importante recursos para disciplinar a educação infantil em um primeiro momento. Posteriormente ela para ser uma atividade de responsável pela formação moral e cívica de jovens e adultos influenciadas por ideias de uma escola renovada.
A escola nova, como ficou conhecida, proclama a reformulação dos métodos de aprendizagem, renovando a importância do jogo e da ginástica como componentes fundamentais da formação da personalidade, da civilidade, da disciplina e da liberdade, valores fundamentais para uma sociedade em mudança. Sendo assim, tanto para jovens como para adultos, os exercícios corporais e a recreação organizada desempenhavam um papel moralizador e cívico.
Sussekind, Marinho e Góes (1952), a melhoria do nível educacional do trabalhador, sua maior integração social, seu equilíbrio biológico são os três grandes objetivo da recreação.
Medeiros (1975) o que caracteriza as atividades de recreação é a atitude ou disposição mental do executante “marcadas sempre pela livre escolha da pessoa que com elas preenche as suas horas vagas, visando unicamente à alegria intrínseca a tais ocupações”
Atualmente a recreação tem sido um elemento estudado e entendido predominantemente como um composto do lazer.
Para Toseti apud Gonçalves (1997, p.14) A recreação é muito importante para o ser humano não só para a criança. Todos nos precisamos dos nossos momentos de lazer. Portanto as atividades recreativas devem ser espontâneas, criativas e que nos traga prazer. Devem ser praticadas de maneira espontânea, diminuindo as tensões e preocupações. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observando os diferentes contextos socioculturais, tudo leva a crer que cultura lúdica integrante da construção de saberes, das formas de sociabilidade, mas manifestações festivas advém não da recreação, mas  dos jogos e brincadeiras que são expressões de desejos e necessidades humanas.
Através dos jogos, brinquedo e brincadeira, desenvolve-se a criatividade, a capacidade de tomar decisões e ajuda no desenvolvimento motor da criança, além destas razões, tornam as aulas mais atraentes para os alunos, são a partir de situações de descontração que o professor poderá desenvolver diversos conteúdos, gerando uma integração entre as matérias curriculares.
Os espaços lúdicos são ambientes férteis para a aprendizagem e o desenvolvimento, principalmente da socialização. 

PROPOSTAS DE VIVÊNCIAS
  • A partir da visualização e breve análise dos quadros a seguir é possível identificar com os educandos quais jogos e brincadeiras eles reconhecem. Tendo como elemento motivador as obras artísticas e o reconhecimento das crianças acerca dos jogos e brincadeiras, existe a possibilidade de vivenciar e registar cada uma das manifestações da cultura corporal dos educandos. Assim, além de estar contribuindo para a formação social e psicomotora dos alunos estarão fazendo um comparativo entre realidades históricas diferentes e preservando, através dos registros, este patrimônio da humanidade: Os jogos e Brincadeiras.

Quadro de Ivan Cruz “Várias brincadeiras II” – 2006.
Quandro de Pieter Brughel que mostra 84 jogos infantis de 1560.
  • Você já construiu seus brinquedos? Outra possibilidade de vivência é a construção de brinquedo. Apresentaremos algumas possibilidades:
Bilboquê (Tesoura, Papel, cordão, fita adesiva e garrafa pet)
Boliche (10 garrafas pet, papel amassado e fita adesiva)
Bolinha na garrafa (Tesoura, Fita adesiva, garrafa pet e bolinhas de gude)
Vai vem (Tesoura, corda, fita adesiva e 6 garrafas pet)
Cai não cai (Garrafa pet, palitos, bolinhas de gude, estilete)
Peteca de jornal (jornal e fitilho)
  • Criar de jogo ou brincadeira também pode ser uma vivência enriquecedora para crianças e adolescentes, pois estão desenvolvendo diversas habilidades que serão importantes para seu desenvolvimento biopsicosocial. Um recurso motivador para criar jogos e brincadeiras é usar o jogo embrionário. Esse tipo de jogo consiste em apresentar aos educandos, num determinado espaço, algumas regras (na maioria dos casos o uso de um recurso material ajuda ampliar a criatividade dos envolvidos) e a partir da vivência os envolvidos ajudarão a incluir outras regras em prol de tornar o jogo ou brincadeira mais justo e mais divertido. Vale salientar que é de fundamental importância a mediação do professor para que ajudar os alunos no processo de construção do jogo ou brincadeira, pois a possibilidade de conflitos entre os educados é grande pelo fato que vários querem por suas ideias no jogo em pratica. Caberão todos decidirem quais as sugestões podem tornar a vivência mais justa e divertida. Após essa discussão é importante dar continuidade na vivência afim de verificar se as sugestões foram aceitas positivamente. Assim, esse processo pode durar algumas aulas e quando o professor verificar que houve, acentuadamente, a diminuição de conflitos na vivência é o momento de dar o nome ao jogo ou brincadeira. Segue abaixo uma ficha de registro, uma adaptação da proposta sugerida pelo professor Alan de Aquino Rocha (Atualmente professor da UESB), que pode auxiliar no registro do jogo embrionário.
  • Pensando na Lei nº 11.645, de 10 março de 2008 que faz referencia a inclusão no currículo oficial da rede de ensino a temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena” sugerimos como vivência os seguintes jogos e brincadeiras: Cultura Indígena: Jurê, luta de galo, disputa de pião e arranca mandioca. Cultura Afro-Brasileira: Chicotinho queimado, capitão do mato, pula corda e elástico. 





SUGESTÃO DE REFERENCIAS PARA APROFUNDAMENTOS DE ESTUDO
MEDEIROS, E. B. O lazer no planejamento urbano. 1975
SUSSEKIND, A.; MARINHO, I. P.; GOÉS, O. Manual de recreação: orientação do lazeres do trabalhador. 1952.
WERNECK, C. L. G. Recreação e lazer: apontamentos históricos no contexto da Educação Física. 2000.
HUIZINGA, J (1971). Homo ludens: o jogo como elemento da cultura
BRACHT, V. Educação física escolar e lazer In: WERNECK, C. L. (Org.). Lazer, recreação e educação física. 2003.
BRUHNS, H.T. O corpo parceiro e o corpo adversário. 1993
DEBORTOLI, J. A. O. Com olhos de criança: a ludicidade como dimensão fundamental da construção da linguagem e da formação humana. Revista licere. 1999
MARCELLINO, N. C. Pedagogia da animação. 1997
OLIVEIRA, P. de S. O que é brinquedo. 1984
VIGOTSKI, L. S. A formação da mente. 2000 

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Instituto de Cegos da Bahia: Educação, Inclusão e Cultura Corporal.

1. INTRODUÇÃO
1.1   APRESENTAÇÃO DO TRABALHO
Este trabalho que têm como finalidade conhecer a rotina e o funcionamento de instituições voltadas para o trabalho de inclusão social de pessoas portadoras de necessidades especiais, entre elas os cegos, da cidade de Salvador.
Trazemos informações, obtidas por meio de pesquisas eletrônicas e pesquisa de campo referente ao Instituto de Cegos da Bahia (ICB). E ao longo desta exposição abordaremos a origem e a organização da instituição, suas principais propostas sociais, como funciona, qual o publico alvo e o perfil dos alunos que freqüentam o IBC, além de uma breve conversa com dois integrantes que possuem inúmeras vivências neste contexto.

1.2   APRESENTAÇÃO DA INSTITUIÇÃO E BREVE HISTÓRICO
O Instituto de Cegos da Bahia esta situado na Rua São José de Baixo, no Barbalho e nasceu do desejo de amparar cegos de todas as idades que viviam perambulando pelas ruas, sem nenhuma assistência. Sua primeira sede foi em um casarão localizado na Rua Augusto Guimarães (Barbalho), doado pelo prefeito Americano da Costa. Esta foi inaugurada no dia 30 de abril de 1933. Por alguns anos a instituição funcionou neste local, onde os albergados trabalhavam na confecção de vassouras visando garantir a sua sobrevivência.
No entanto, as atividades não tiveram tanto êxito, e a manutenção dos cegos se tornara inviável, mantê-los a alimentá-los necessitava um custo maior do que o que conseguiam, em vista disso a Diretoria, tendo à frente Edla Lima, iniciou a construção de um novo prédio composto de acomodações mais amplas e confortáveis, todavia, a partir desse momento a entidade passou a atender somente crianças e adolescentes deficientes visuais dos estados da Bahia e Sergipe, servindo como uma casa de educação, recebendo apoio público e privado com maior amplidão. A transformação do ICB em uma casa de ensino teve como principal mentor, a senhora Dorina Nowill, portadora de deficiência visual e criadora da Fundação do Livro do Cego. Esta filosofia permanece até hoje, porém houve uma ampliação na faixa etária do atendimento, devido a criação em 1998 do Centro de Intervenção Precoce.
Segundo Antonio Bahia, professor de educação física do IBC, as práticas envolvidas nesta instituição tem como base teórica as idéias de Vigotski. E no período que foi feito esse estudo (2008) a presidenta do instituto era a Srª. Silvia Figueiredo.

2. MISSÃO
Preparar os jovens deficientes para a vida em sociedade.

3. PERFIL DO PÚBLICO ALVO INSTITUCIONAL
O perfil apresentado neste instituto é de crianças e adolescentes portadores de deficiência visual (Cegos de baixa visão ou sem visão). Vale salientar que a maioria dos alunos tem a cegueira é secundária, pois apresentam outras dificuldades como por exemplo: dificuldade de locomoção.
O grupo social que freqüenta o IBC é a classe de baixa renda, provenientes do subúrbio metropolitano e, em alguns casos, de municípios do interior da Bahia.

4. APROXIMAÇÃO TEÓRICA SOBRE O PÚBLICO ALVO EM QUESTÃO
Para favorecer melhor entendimento acerca das questões relacionadas a este público alvo a definição de termos que estamos apresentando é relevante. Nesse sentindo definimos que:

"Deficiência é o termo usado para definir a ausência ou a disfunção de uma estrutura psíquica, fisiológica ou anatômica. Diz respeito à biologia da pessoa. Este conceito foi definido pela Organização Mundial de Saúde. A expressão pessoa com deficiência pode ser aplicada referindo-se a qualquer pessoa que possua uma deficiência. Contudo, há que se observar que em contextos legais ela é utilizada de uma forma mais restrita e refere-se a pessoas que estão sob o amparo de uma determinada legislação". (INSTITUTO BRASILEIRO DOSDIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA)

Tratando se neste trabalho de pessoas portadoras de deficiência visual, reconhecemos que:

"O termo deficiência visual refere-se a uma situação irreversível de diminuição da resposta visual, em virtude de causas congênitas ou hereditárias, mesmo após tratamento clínico e/ou cirúrgico e uso de óculos convencionais. A diminuição da resposta visual pode ser leve, moderada, severa, profunda (que compõem o grupo de visão subnormal ou baixa visão) e ausência total da resposta visual (cegueira). Segundo a OMS (Bangkok, 1992), o indivíduo com baixa visão ou visão subnormal é aquele que apresenta diminuição das suas respostas visuais, mesmo após tratamento e/ou correção óptica convencional, e uma acuidade visual menor que 6/18 à percepção de luz, ou um campo visual menor que 10 graus do seu ponto de fixação, mas que usa ou é potencialmente capaz de usar a visão para o planejamento e/ou execução de uma tarefa". (PORTAL DA OFTALMOLOGIA)

Segundo Sassaki (2006) a Seção IV do Decreto n. 3.298, de 20/12/99, é intitulada "Do Acesso ao Trabalho" e abrange os artigos 34 ao 44. É possível analisar, sob inspiração do paradigma da inclusão, o artigos 34 (finalidade da política de emprego). O referido artigo diz:
"Art. 34. É finalidade primordial da política de emprego a inserção da pessoa portadora de deficiência no mercado de trabalho ou sua incorporação ao sistema produtivo mediante regime especial de trabalho protegido". (DECRETO Nº 3298 apud SASSAKI, 2006)
Interpretando este artigo podemos verificar que ele está mal formulado no trato com os termos “inserção da pessoa portadora de deficiência no mercado de trabalho ou sua incorporação ao sistema produtivo” podendo ser redundante ou assegurador confundindo o entendimento de quem queira aplicá-lo a situações concretas. Importante lembrar que nessa óptica de mercado de trabalho para os Deficientes Visuais nos últimos 20 anos, foram desenvolvidas experiências e tecnologias suficientes para colocarmos pessoas com deficiência "leve, moderada, grave ou severa" no mercado de trabalho competitivo. Porém, ainda existem pessoas com deficiência que não conseguem trabalhos competitivos, independentemente de sua deficiência ser "leve, moderada, grave ou severa".

5. ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO
Este Centro atende em regime de ambulatório, crianças de 0 a 5 anos. O ICB acolhe aproximadamente 160 deficientes visuais de 0 a 21 anos (sendo que depois dos 18 anos são encaminhados para Centros de Apoio Pedagógico), que se encontram distribuídos em ambulatório, internato, semi-internato e Oficina Pré-Profissional. O Instituto fornece gratuitamente aos deficientes visuais: alimentação, vestuário, medicamento, material escolar, fardamentos, artigos de higiene, etc.
A instituição funciona de segunda a sábado, das 7:30h às 20:00h e a escola do Instituto de Cegos da Bahia é conveniada com as Secretarias de Educação do Estado e do Município. Essa escola funciona no 2º andar da Instituição e é composta por 15 salas de aulas, uma biblioteca em Braiile e em Negro, uma sala de SOE, uma sala de A.V.D. e duas salas de Direção. No andar térreo do Instituto funciona a Oficina Pré-profissionalizante. Esta destina-se a adolescentes portadores de deficiência visual, com idade entre 14 e 18 anos, e tem como objetivo desenvolver habilidades e atitudes específicas nestes jovens.
A Instituição funciona em um prédio próprio de 6 andares e conta com as seguintes acomodações: Centro de Informática; Oficina pré-profissionalizante; Biblioteca; Sala de recursos; Instalações sanitárias; Área de lazer com jardim, piscina e quadra de esportes; Cozinha e refeitório; Escola especializada; Gabinetes médico clínico, oftalmológico, odontológico, de psicologia e terapia ocupacional, capela e secretaria; Dormitórios dos alunos (4º e 5º andares); Lavanderia.
O corpo técnico que dar suporte aos alunos nesta estrutura é composto de: coordenadora técnica; coordenadora administrativa; coordenadora de saúde; duas médicas pediatra; duas médicas oftalmologista; duas psicóloga; farmacêutica; três terapeutas ocupacional; duas assistentes social; duas dentistas; vinte e seis professores especializados em D. V.; nutricionista; técnicos em educação física; auxiliar de reabilitação. Além da equipe de apoio formada pela secretária administrativa, contador, encarregado de pessoal, administradora interna, telefonista, motorista, digitador, cozinheiras, zeladores, porteiro e vigia noturno.
O ICB é dirigido por voluntários que formam a Diretoria Executiva, renovada de 3 em 3 anos, e pelos Conselhos Fiscal e Deliberativo que anualmente avaliam as contas e as atividades desenvolvidas pelos internos.

6. FINANCIAMENTO E MANUTENÇÃO
Segundo o site do ICB (verificado no ano desta pesquisa), a instituição é mantida através dos pagamentos de anuidades dos sócios (R$ 80,00), promoções sociais, aluguéis de imóveis, doações sistemáticas ou não e parcerias com os seguintes órgãos:
- SESAB (Secretaria de Saúde do Estado da Bahia);
- Secretaria Municipal de Saúde;
- C.V.B (Centro de Voluntários da Bahia);
- SETRAS (Secretaria de Trabalho e Ação Social);
- SETRADS (Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social);
- CMDCA (Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente);
- SEEBA (Secretaria de Educação do Estado da Bahia);
- Prefeitura Municipal de Salvador;
- Secretaria Municipal de Educação;
- CMASS (Conselho Municipal de Assistência Social);
- MEC (Ministério de Educação);
- CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social);
- ONCE - ULAC (Espanha);
- UFBA (Universidade Federal da Bahia);
- FEBIEX (Federação Baiana das Entidades de Excepcionais);
- CODEF (Coordenadoria de Apoio à Pessoa Portadora de Deficiência);
- CECA (Conselho Estadual da Criança e do Adolescente).

De acordo com relatos de Antonio Bahia, professor que acompanhou o grupo na visita ao IBC, o principal meio que ajuda na manutenção do IBC é a parceria com ONGs, principalmente as ONGs de projetos oriundo da Espanha e Portugal que doam alguns recursos e outro meio que dar suporte na manutenção é o recolhimento de notas fiscais e de doações da SUDESB e da comunidade.

7. CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO COMO CULTURA CORPORAL
As atividades desenvolvidas na instituição têm como critério a integração dos portadores à vida social trabalhando as potencialidades dos alunos, e são oferecidas atividades como: Atividade de vida diária: que permite exercícios de atividades corriqueiras dentro e fora de casa, como lavar pratos, forrar camas, usar os cômodos e eletrodomésticos da casa; Atividades de Educação Física: que permitem o desenvolvimento de suas qualidades motoras, ajudando-os na locomoção e manuseio de objetos, estas atividades permitem ainda a prática esportiva e a realização de sonhos e desafios; Aulas de Braile e Escrita e leitura convencional. Além dessas atividade os alunos tem a oportunidade de participarem de eventos esportivos, como campeonatos de futsal para cegos e provas de atletismo, e eventos praticas que envolvem a vivência e corais musicais e quadrilhas junina.
De acordo com o site da instituição existem atividades de Oficinas que são desenvolvidas em etapas que incluem: Adaptação - são trabalhos preliminares que visam desenvolver a coordenação motora e a percepção tátil. Estes trabalhos são feitos utilizando cerâmica, papel, tesoura, enfiagem de contas, colagem, placas de eucatex e tranças; Treinamento em habilidades específicas - tem como objetivo o desenvolvimento da coordenação motora, habilidade manual, movimento de pinça, hábitos de higiene, atenção concentrada, lateralidade, uniformidade de movimentos e domínio. Nesta etapa são desenvolvidas costuras de círculos sol e sereno, bonequinhos de lã e forração de argolas.
Depois de alfabetizado, o Deficiente Visual é incluído na escola regular onde ele irá estudar e fazer a concretização no ICB com um professor especializado na área acadêmica. A parte especializada é composta de: A. V. D. (É o ensino de todas as atividades diárias que o D. V. aprende para se tornar mais independente.), Psicomotricidade, Orientação e Mobilidade (É o estudo das técnicas de locomoção, que visam garantir a independência do D. V.), Braille (É a escrita e leitura do D. V.), Braille Abreviado, Sorobã (É onde o D. V. aprende matemática.), Desenho, Treinamento dos Sentidos, Manuscrito e Treinamento da Visão Subnormal.

8. ENTREVISTA COM O EDUCADOR DO ICB
Antônio Luiz F. Bahia é professor de Educação Física do Instituto de Cegos da Bahia.
- O que o motiva a realizar esse trabalho?
AB – O emprego, sou um funcionário, ganho pra trabalhar, não é favor, no entanto, me sinto melhor trabalhando aqui, do que dando aulas numa faculdade.
- Há quanto tempo realiza esse trabalho, e o fato que mais marcou nesse período?
AB – 18 anos, esse trabalho me marca a cada dia, porém, as atividades que estes realizam e que são exemplos de superação, como a quadrilha junina, os campeonatos de esporte, e de um aluno em especial, o qual consegui fazer com ele se sentisse solto na piscina, uma vez que não largava a borda;
- As principais dificuldades encontradas para continuar realizando o trabalho: já pensou em desistir?
AB – Material, mesmo assim transformamos (dificuldades) em potencialidade. Não!
- Os recursos disponíveis são o suficientes para a realização do seu trabalho? O que mais falta?
AB – Não são. Falta tudo.
- Sua formação lhe preparou adequadamente para atuar com essa área? De que forma?
AB – Fui me formando na prática com o tempo; graduação, especialização, mestrado, foi assim.
- Sente-se realizado?
AB – Não. Sinto-me realizado.

9. ENTREVISTA COM O EDUCANDO DO ICB
Matheus é aluno do instituto, catequista em sua comunidade paroquial, e aprendeu a ler na instituição.
- Suas maiores dificuldades:
M – Acessibilidade.
- Qual a importância da Educação Física fora daqui?
M – Não pratico atividades fora daqui. Porém, as atividades que realizo aqui me transmitem a possibilidade de transformação, superação e quebra de limites. Limites não existe, nada é impossível!
- Como é a sua relação com os funcionários?
M – Gosto da relação que tenho com os funcionários, alguns não deveriam estar aqui, mas nos ensina a conviver.
- qual a importância do ICB na sua vida? Trouxe-lhe algum benefício?
M – Eu aprendi muito, sobretudo, a me locomover sozinho, isso me torna independente.
- Quais mudanças você faria na ICB, e o que acrescentaria?
M – Ampliação das aulas de A.V.D., e trocaria alguns funcionários.
- Sente-se realizado?
M – Sim (conformidade).

10. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para tanto, o Instituto de Cegos da Bahia é uma instituição especializada que atende crianças e jovens onde é os preparam para serem alfabetizados através do sistema Braille e, nesta fase, inicia o processo de integração social, aprendizagem nas Atividades da Vida Diária e ampliação de sua cultura corporal.
Nesta escola os alunos têm acompanhamento de professores especializados no trato com deficiência visual que auxiliam no seu desenvolvimento psicossocial. Além do apoio pedagógico, o aluno, também, terá acesso médico, odontológico, oftalmológico e terapêutico ocupacional e participam de atividades musicais como aula de música, piano e coral. Nas aulas de educação física existem práticas de natação e futsal.
Assim, desde sua inauguração, o IBC acredita em um trabalho integrado com finalidade de acompanhar o desenvolvimento neuropsicomotor da criança cega ou com visão subnormal, prevenindo, desta forma, alterações físicas e psicológicas que possam comprometer o seu desenvolvimento global, preparando-a desde a primeira infância para sua inserção no meio social e familiar.
Vale salientar que um dos fatores principais que influenciam o trabalho do IBC é o contexto de vida do aluno influencia e a falta de recursos. E as aulas de educação física influenciada por esse contexto e falta de recursos acontece, em muitas vezes, com improvisação de materiais e com muita criatividade dos professores. Pois, é nesse ambiente que as crianças e jovens aprendem desde brincadeiras simples a jogos complexos. A partir de uma reunião de uma equipe multidisciplinar comprometida com o projeto institucional voltado para a criança portadora de deficiência visual, cuja dinâmica de trabalho consiste na avaliação diagnóstica e elaboração de programa terapêutico direcionado para as necessidades individuais de cada caso.

REFERÊNCIAS
INSTITUTO DE CEGOS DA BAHIA. Informações gerais. Acesso em: 7 set. 2008. Disponível em: www.institutodecegos.org.br.
INSTITUTO BRASILEIRO DOS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIENCIA. Informações gerais. Acesso em: 8 set. 2008. Disponível em: www.ibdd.org.br.
SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. 7.ed. Rio de Janeiro: WVA, 2006.
WINKIPEDIA. Definição de Deficiência. Acesso em 7 set. 2008. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Deficiente
PORTAL DA OFTALMOLOGIA. Definição de deficiência visual. Acesso em 9 jan. 2016. Disponível em: http://www.portaldaoftalmologia.com.br/site/site2010/index.php?view=article&catid=41%3Anoticias&id=593%3Atipos-e-causas-de-deficiencia-visual&format=pdf&option=com_content&Itemid=77

ANEXOS (registros feitos em 2008 no ICB)

Piscina do ICB.
Acesso à quadra do ICB.
Quadra do ICB.
Espaço para brincadeiras e aprendizagens.
Alfabeto e números em braile.
Pátio do ICB.
Equipe que possibilitou a elaboração e sistematização deste estudo: Marielson Alves, Antonio Bahia, Romero Araujo, Eliney Pitangueiras e Fernando Moura.