domingo, 14 de fevereiro de 2016

JOGOS, BRINCADEIRAS E RECREAÇÃO: Letrando com ludicidade.

INTRODUÇÃO
As vivências no curso de Alfabetização e Letramento com a disciplina Praticas de Jogos e Recreação tem a intenção de aumentar o estimulo e reflexão acerca da importância do lúdico na construção do processo de ensino e aprendizagem na educação, que é de suma importância para todos os pedagogos, professores, comunidade, escola e familiares que tenham a intenção de educar. Assim,  com um encontro dinâmico e contextualizado, o professor Marielson Alves, visando a valorização do resgate de experiências, da criatividade e do espírito de liderança para compreender o que for trabalhado nesse encontro, afim de, identificar a importância de conhecermos ou reconhecermos os jogos, brincadeiras e recreação na sociedade. Levando em consideração que são elementos da cultura corporal de movimento e linguagem e fazem parte da construção social e cultural da humanidade.

LÚDICO
O lúdico é uma manifestação cultural que permeia várias dimensões da vida humana, assim, vários autores já investigaram o fenômeno lúdico a fim de compreender suas características e significados e ao mesmo tempo, buscar um conceito que pudesse melhor exprimi-lo.
Umas das principais referências para este estudo é Huizinga (2000), que identifica o lúdico em diferentes esferas da vida social e é parte integrante da vida em geral, possui um caráter desinteressado, gratuito e provoca evasão do real. Já Bruhns (1993) concebe a atividade lúdica como pratica real das relações sociais, como produto coletivo da vida humana, podendo se manifestar no jogo, no brinquedo e na brincadeira, desde que possua características como desinteresse, seriedade, prazer, organização, espontaneidade. Sendo fundamental a dimensão corporal. Oliveira (1984) complementa que o lúdico no brinquedo enquanto exercício individual carregado de emoções, densidade, enigmas e significados, algo que provoca o imaginário e a sensibilidade da criança, fornecendo-lhe subsídios para a sua inserção na realidade.
Alguns autores consideram como fenômeno restrito a uma fase da vida, a infância, quando o jogo, o brinquedo e a brincadeira ainda funcionam como elos mediadores da criança com o mundo. Operando-se um reducionismo que desconsidera o lúdico em sua constituição social, histórica e cultural. O lúdico não se vincula exclusivamente a cultura infantil, embora, paradoxalmente, até mesmo das crianças tem sido “roubado”. Marcellino (1997) identificou essa problemática ao analisar as relações entre lazer, escola e processo educativo.
Infelizmente com a realidade de exclusão, marginalidade e desigualdade social historicamente construída um nosso país muitas crianças são privadas de vivenciar a cultura lúdica em troca de sua “inclusão precoce e criminosa no mercado de trabalho”. No caso das grandes cidades a manifestação do lúdico tem sido cada vez mais controlada e confinada a determinado tempos, espaços e praticas. Sofrendo influencias de meios de comunicação, do contexto da comunidade ou da lógica de mercado.

JOGOS
Alguns autores como João Batista Freire, admitem que o ser humano é lúdico, portanto o jogo seria inerente à sua existência. Não é a toa que o jogo é considerado um patrimônio da humanidade. Eles são muito parecidos com as brincadeiras que fazemos desde crianças, mas têm regras próprias que devem ser respeitados para que eles possam ocorrer, havendo a possibilidade de altera-las sempre que necessário afim de, tornar a vivência mais divertida.
Nos Parâmetros Curriculares de Educação Física a palavra jogo é representa por uma infinidade de significados de acordo com o contexto. Permitindo uma flexibilidade de regulamentações que o esporte não admite, os jogos podem compreender diferentes espaços, materiais, tempo, número de participantes, podendo ainda se manifestar nas formas competitiva, cooperativa ou recreativa. Assim, podemos incluir entre os jogos e brincadeiras populares, os jogos de salão, de tabuleiro, grande jogos (queimada, pique-bandeira), jogos de construção, jogos de faz de conta, jogos de imitação e as brincadeiras infantis de maneira geral.
O Jogo é entendido como um instrumento do lúdico. No caso da tipificação devemos considerar as dimensões de “forma do jogo” e “modo de jogar” para favorecer uma análise critica e criativa da atividade lúdica que seja desenvolvida nas aulas.

BRINCADEIRA
Para Barreto (1998), brincadeira é a atividade lúdica livre, separada, incerta, improdutiva, governada por regras e caracterizada pelo faz de conta. É uma atividade bastante consciente, mas fora da vida rotineira e não séria, que absorve a pessoa intensamente. Sá (2005) indica que brincar é algo intrínseco à vida de toda criança, um processo que vai se desenrolando em seu curso, no tempo e no espaço, e no qual estão contidos aspectos físicos, emocionais e mentais, de forma individualizada ou combinada. E Debortoli (1999) complementa que brincar, brincadeira e gesto lúdico devem ser entendidos como “dimensão da construção da linguagem humana, ou seja, como possibilidade de expressão, representação, significação, ressignificação e reinterpretação da e na cultura”.

BRINQUEDO
O brinquedo é o instrumento do brincar, geralmente introduzido na cultura da criança pela mão do adulto. Kishimoto(1998) acredita que o brinquedo estimula a inteligência, fazendo com que a criança solte sua imaginação e desenvolva a criatividade. O brinquedo diminui o sentimento de impotência da criança, pois, ao manipulá-lo, ela cria situações novas, reconhece outras, compara, experimentam, desenvolve sua imaginação e habilidades.
Para tanto o brinquedo é o suporte do jogo e da brincadeira, é o objeto que desperta a curiosidade, exercita a inteligência, permite a invenção e a imaginação e possibilita que a criança descubra suas próprias capacidades de apreensão da realidade. Ele permite, pois, à criança, testar situações da vida real ao seu nível de compreensão, sem riscos e com controle próprio.
Vocês já confeccionaram seus brinquedos? 

RECREAÇÃO
Compreender a recreação em seu desenvolvimento histórico e cultural é reconhecer o próprio percurso da educação física, uma vez que, no Brasil, o incremento de praticas recreativas foi responsável pela criação dos cursos de formação profissional em Educação Física (Wernerck, 2000). Talvez, por isso, seja ela uma das atividades mais reconhecidas no campo, embora também uma das mais polêmicas e confusas.
A recreação esta intimamente relacionada à historia da educação, da escola e do ensino público primário.  Sua ocorrência pôde ser observada ao longo de todo o século XIX.
A recreação aparece como importante instrumento pedagógico, cuja orientação era disciplinar o corpo no sentido de que, no tempo livre, não se flexibilizasse com a preguiça. Ela se configura como estratégia de controle dos tempos, espaços e praticas realizadas na escola.
Recreação foi um importante recursos para disciplinar a educação infantil em um primeiro momento. Posteriormente ela para ser uma atividade de responsável pela formação moral e cívica de jovens e adultos influenciadas por ideias de uma escola renovada.
A escola nova, como ficou conhecida, proclama a reformulação dos métodos de aprendizagem, renovando a importância do jogo e da ginástica como componentes fundamentais da formação da personalidade, da civilidade, da disciplina e da liberdade, valores fundamentais para uma sociedade em mudança. Sendo assim, tanto para jovens como para adultos, os exercícios corporais e a recreação organizada desempenhavam um papel moralizador e cívico.
Sussekind, Marinho e Góes (1952), a melhoria do nível educacional do trabalhador, sua maior integração social, seu equilíbrio biológico são os três grandes objetivo da recreação.
Medeiros (1975) o que caracteriza as atividades de recreação é a atitude ou disposição mental do executante “marcadas sempre pela livre escolha da pessoa que com elas preenche as suas horas vagas, visando unicamente à alegria intrínseca a tais ocupações”
Atualmente a recreação tem sido um elemento estudado e entendido predominantemente como um composto do lazer.
Para Toseti apud Gonçalves (1997, p.14) A recreação é muito importante para o ser humano não só para a criança. Todos nos precisamos dos nossos momentos de lazer. Portanto as atividades recreativas devem ser espontâneas, criativas e que nos traga prazer. Devem ser praticadas de maneira espontânea, diminuindo as tensões e preocupações. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observando os diferentes contextos socioculturais, tudo leva a crer que cultura lúdica integrante da construção de saberes, das formas de sociabilidade, mas manifestações festivas advém não da recreação, mas  dos jogos e brincadeiras que são expressões de desejos e necessidades humanas.
Através dos jogos, brinquedo e brincadeira, desenvolve-se a criatividade, a capacidade de tomar decisões e ajuda no desenvolvimento motor da criança, além destas razões, tornam as aulas mais atraentes para os alunos, são a partir de situações de descontração que o professor poderá desenvolver diversos conteúdos, gerando uma integração entre as matérias curriculares.
Os espaços lúdicos são ambientes férteis para a aprendizagem e o desenvolvimento, principalmente da socialização. 

PROPOSTAS DE VIVÊNCIAS
  • A partir da visualização e breve análise dos quadros a seguir é possível identificar com os educandos quais jogos e brincadeiras eles reconhecem. Tendo como elemento motivador as obras artísticas e o reconhecimento das crianças acerca dos jogos e brincadeiras, existe a possibilidade de vivenciar e registar cada uma das manifestações da cultura corporal dos educandos. Assim, além de estar contribuindo para a formação social e psicomotora dos alunos estarão fazendo um comparativo entre realidades históricas diferentes e preservando, através dos registros, este patrimônio da humanidade: Os jogos e Brincadeiras.

Quadro de Ivan Cruz “Várias brincadeiras II” – 2006.
Quandro de Pieter Brughel que mostra 84 jogos infantis de 1560.
  • Você já construiu seus brinquedos? Outra possibilidade de vivência é a construção de brinquedo. Apresentaremos algumas possibilidades:
Bilboquê (Tesoura, Papel, cordão, fita adesiva e garrafa pet)
Boliche (10 garrafas pet, papel amassado e fita adesiva)
Bolinha na garrafa (Tesoura, Fita adesiva, garrafa pet e bolinhas de gude)
Vai vem (Tesoura, corda, fita adesiva e 6 garrafas pet)
Cai não cai (Garrafa pet, palitos, bolinhas de gude, estilete)
Peteca de jornal (jornal e fitilho)
  • Criar de jogo ou brincadeira também pode ser uma vivência enriquecedora para crianças e adolescentes, pois estão desenvolvendo diversas habilidades que serão importantes para seu desenvolvimento biopsicosocial. Um recurso motivador para criar jogos e brincadeiras é usar o jogo embrionário. Esse tipo de jogo consiste em apresentar aos educandos, num determinado espaço, algumas regras (na maioria dos casos o uso de um recurso material ajuda ampliar a criatividade dos envolvidos) e a partir da vivência os envolvidos ajudarão a incluir outras regras em prol de tornar o jogo ou brincadeira mais justo e mais divertido. Vale salientar que é de fundamental importância a mediação do professor para que ajudar os alunos no processo de construção do jogo ou brincadeira, pois a possibilidade de conflitos entre os educados é grande pelo fato que vários querem por suas ideias no jogo em pratica. Caberão todos decidirem quais as sugestões podem tornar a vivência mais justa e divertida. Após essa discussão é importante dar continuidade na vivência afim de verificar se as sugestões foram aceitas positivamente. Assim, esse processo pode durar algumas aulas e quando o professor verificar que houve, acentuadamente, a diminuição de conflitos na vivência é o momento de dar o nome ao jogo ou brincadeira. Segue abaixo uma ficha de registro, uma adaptação da proposta sugerida pelo professor Alan de Aquino Rocha (Atualmente professor da UESB), que pode auxiliar no registro do jogo embrionário.
  • Pensando na Lei nº 11.645, de 10 março de 2008 que faz referencia a inclusão no currículo oficial da rede de ensino a temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena” sugerimos como vivência os seguintes jogos e brincadeiras: Cultura Indígena: Jurê, luta de galo, disputa de pião e arranca mandioca. Cultura Afro-Brasileira: Chicotinho queimado, capitão do mato, pula corda e elástico. 





SUGESTÃO DE REFERENCIAS PARA APROFUNDAMENTOS DE ESTUDO
MEDEIROS, E. B. O lazer no planejamento urbano. 1975
SUSSEKIND, A.; MARINHO, I. P.; GOÉS, O. Manual de recreação: orientação do lazeres do trabalhador. 1952.
WERNECK, C. L. G. Recreação e lazer: apontamentos históricos no contexto da Educação Física. 2000.
HUIZINGA, J (1971). Homo ludens: o jogo como elemento da cultura
BRACHT, V. Educação física escolar e lazer In: WERNECK, C. L. (Org.). Lazer, recreação e educação física. 2003.
BRUHNS, H.T. O corpo parceiro e o corpo adversário. 1993
DEBORTOLI, J. A. O. Com olhos de criança: a ludicidade como dimensão fundamental da construção da linguagem e da formação humana. Revista licere. 1999
MARCELLINO, N. C. Pedagogia da animação. 1997
OLIVEIRA, P. de S. O que é brinquedo. 1984
VIGOTSKI, L. S. A formação da mente. 2000 

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