quarta-feira, 31 de julho de 2019

Função da Educação na Formação do Sujeito

A Educação historicamente assume papel relevante na vida das pessoas por estar vinculada ao mundo do trabalho e à prática social, atualmente, se reestrutura frente às novas tecnologias, às novas perspectivas pedagógicas e às diversidades de realidades, com papel fundamental no processo de informação e formação dos sujeitos.

Amparado pela a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (Lei 9394/96), a educação tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.

Caracterizada pela socialização de conhecimentos acumulados pela humanidade que possibilita aos sujeitos alcançarem o desenvolvimento de suas potencialidades, ao longo da vida, pois o principio básico da educação é a formação integral para a vida no mundo, ou melhor, a vida em sociedade. Compondo um conjunto de experiências de caráter social que contribui para grandes transformações individuais e coletivas importantes para o desenvolvimento da identidade e autonomia, para a formação da consciência crítica e para ampliação da visão de mundo. Dessa forma, segundo Edgar Morin (1990), o papel da educação é ensinar a enfrentar a incerteza da vida, em outras palavras, o papel da educação é de instruir o espírito a viver e a enfrentar as dificuldades do mundo.

Nas ultimas décadas mudanças profundas ocorreram em escala mundial, entre elas o avanço da tecnologia de informação e a globalização, ampliando exigências da sociedade em questões que envolvem a educação sintetizando a busca pela qualidade, entretanto, paradoxalmente, cada vez mais as políticas de estado restringem o financiamento de atividades especificas das instituições educacionais, especialmente em países como o Brasil. Um país em que as desigualdade sociais, o desemprego, a pobreza, a fome, a violência, a desestruturação das famílias e pouca de valorização da educação aliado a problemas ambientais torna o cenário educacional tão complexo diante da diversidade de contextos que os sujeitos estão inseridos.

Dessa forma, consciente da complexidade que envolve o processo educativo e de que a educação é um dever compartilhado entre a família e o Estado é importante que os sujeitos, em sua formação para a vida, possam ler criticamente a sociedade e participar dela atuando para, na medida do possível, melhorá-la buscando a valorização e a apropriação de conhecimentos aliado a ações políticas-administrativas em prol do desenvolvimento continuo de educação com qualidade e que contemple a diversidade dos sujeitos de forma equitativa e efetiva.

Autor: Marielson Nascimento Alves 
(Prof. Especialista em Educação Física, Desporto Escolar e Artes Marciais)

Turma que concluiu o Ensino Médio em 2018 no Colégio Estadual Edson Carneiro.

domingo, 7 de julho de 2019

O judô como elemento de inclusão social no Colégio Estadual Edson Carneiro

Socialização de recortes das intervações no Colégio Estadual Edson Carneiro com o projeto Judô Evolução durante o periodo de março de 2016 a dezembro de 2018 desenvolvido pelo Professor de Educação Física e faixa preta 2º Dan Marielson Alves no turno vespertino.

Inicio do projeto Judô Evolução em 2016 na quadra do Colégio Estadual Edson Carneiro.

INTRODUÇÃO
A comunidade escolar é um espaço de convivência caracterizado pela pluralidade de conhecimentos e com variadas formas de manifestações sociais e culturais. Desta forma, para realizar estudos acerca de ações inclusivas na escola faz-se necessário considerar o contexto, dentro e fora da escola, que os estudantes estão inseridos.
Este estudo apresenta algumas abordagens que fundamentam a importância do judô na escola. E, também, vivências com o Projeto Judô Evolução, desenvolvido no Colégio Estadual Edson Carneiro localizado em São Caetano, bairro periférico de Salvador (BA). Com o objetivo de comprovar que a pratica do judô na escola pública evidencia-se como elemento de inclusão social, este estudo apresenta os impactos positivos na formação educativa integral de crianças e adolescentes através das vivências com o judô além de apontar as características que tornam o judô um importante aliado à formação educacional.

Final da aula no Colégio Edson Carneiro em 2017.

CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO E ASPECTOS HISTÓRICOS
Considerado elemento da cultura corporal (COLETIVO DE AUTORES, 1992 p. 62) o judô possui raízes nipônicas e com origem no final do século XIX. Criado por Jigoro Kano com base nas técnicas de um sistema de autodefesa tradicional japonês denominado jujitsu. Segundo Sugai (2000 apud De Souza, 2012 p. 1) a intenção de Jigoro Kano foi transformar uma arte marcial tão antiga e popular em outra que se propõe em auxiliar na formação integral do ser humano.
Segundo as pesquisas de Sérgio Lex (2017, p.37) no final de 1914 Mitsuyo Maeda, um dos alunos da Kodokan, chega ao Brasil via rio Amazonas e desembarca em Belém. Em sua bagagem Maeda tinha um amplo conhecimento do judô e aproveitou para ensinar a arte para varias pessoas, fazendo apresentações e divulgando o judô em vários estados brasileiros.
Segundo Virgílio (2000 p.43), os valores educacionais do judô formam um conjunto de fatores que favoreceu o crescimento e o desenvolvimento do judô no Brasil. Assim, o reflexo desse cenário é retratado em dados expressos pela Confederação Brasileira de Judô (2014) que informa a existência de mais de dois milhões de praticantes de judô no Brasil na atualidade, com destaque para o elevado quantitativo crianças e adolescentes que praticam judô em academias, associações e, principalmente em escolas.
Festival de Judô Interno no Colégio Edson Carneiro em 2017.

RELEVÂNCIA DO JUDÔ NA ESCOLA PÚBLICA
Os problemas sociais, a falta de espaços adequados e de tempo, e ainda, o avanço tecnológico que trouxe máquinas como tablets, games, computadores e outros tiram oportunidades de crianças e jovens desenvolverem as diversas formas de praticas corporais. Dessa forma, faz se necessário compensar esta pouca ou ausência de vivências com praticas corporais. Assim, o esporte, em destaque o Judô, nas escolas se insere como importante elemento que pode suprir determinadas carências que ultrapassam as questões corporais e auxilia também na socialização, motivação e nas aprendizagens do currículo escolar.
No Brasil há exemplos de diversas experiências exitosas com judô na escola. Relatos que versam sobre a importância do judô em projetos esportivos e/ou educacionais, devido percepção de resultados voltados para melhorias na capacidade de aprender. 
Para motivar o processo de aprendizagens durante a prática do judô nas escolas a ludicidade é uma das estratégias mais utilizadas quando trabalhado com crianças e adolescentes. Funcionando como meio facilitador de aprendizagens regadas de valores éticos e morais.
Vale salientar que a ausência ou esquecimento dos valores morais, importantes para o comportamento dos estudantes e a existência de professores de unidades escolares que não valorizam os potenciais de seus alunos e/ou não acreditarem no esporte como meio de formação pessoal e transformação social (VIANNA e LOVISOLO, 2011 p. 294 e FERREIRA, 2007 p. 24) são preocupações que geram conflitos. Dessa forma a introdução e aplicação do judô como modalidade esportiva colaboram para a obtenção e resgate desses valores e afirmam o poder motivacional do esporte.
Para tanto, a inserção da cultura e pratica do judô em ambiente escolar é necessária, mas precisa de melhor amparo acadêmico e governamental. Concordando com Rizzo, (2011 p. 18) que se posiciona a favor de haver mais discussões na universidade sobre a sua inclusão desta pratica corporal na escola.
Assim, o poder de transformação social que o judô pode apresentar ou apresenta na escola pública é um grande destaque. Para isso, Lex (2017, p.68) pontua que o professor deve estar consciente de sua função como educador e se ater para que sua aula esteja dentro de alguns parâmetros sequenciais, para que obtenha melhor didática, e consequentemente, a otimização dos resultados frente aos objetivos propostos.

Comemoração do dia Mundial de Judô com a Turma do Judô Evolução do Colégio Edson Carneiro em 2017.

ABORDAGEM INCLUSIVA DO JUDÔ NA ESCOLA PÚBLICA
As realidades de comunidades que se encontram em situação de risco social e a busca de vivências esportivas dentro ou fora do ambiente escolar configuram contextos em que o esporte pode representar uma forma de realização pessoal e de acesso a condição de cidadania (VIANNA e LOVISOLO, 2011 p. 294). Revelando o poder de elevação cultural e inclusão social que o esporte aliado à educação pode proporcionar. Contexto em que o judô se insere por possuir qualidades exaltadas. Ferreira (2007 p. 17) em seus estudos aponta que:

“Nas práticas do judô, percebe-se claramente a mesclagem e a intervenção de diferentes culturas, oriental e ocidental, produzindo um fenômeno sociológico de integração entre povos distintos. A aceitação e respeito pelas diferenças étnicas, culturais, sociais e políticas, onde os princípios, regras e fundamentos do judô, tornados universalizados, permitem essa união. E esse era o grande ideal de Jigoro Kano, o criador do judô”.

Reconhecido pela UNESCO como modalidade de utilidade mundial na formação do ser humano (BATISTA, 2011 p. 194) o judô é um dos esportes de lutas mais praticados no Brasil que, na atualidade, vem sendo um meio eficaz de educar e ensinar valores morais aos jovens, e auxilia estes ter uma vida bem sucedida (RIZZO, 2011 p. 19). De Souza (2012 p. 1) complementa em seus estudos que, através do judô o aluno passa por um processo de autodescoberta que auxilia na formação da personalidade e contribui para a formação global do cidadão. Feitosa Nakassu, Flamino e Arruda (2011 p. 1) expõem que:

“na educação de um aluno, atrelada ao Judô, que não se resume a uma prática tecnicista voltada para fins exclusivamente corporais e sim, uma manifestação cultural esportiva continente de princípios filosóficos que vêm a preencher lacunas formativas.”

Realização do Ukemi no aquecimento da aula de Judô.

PROJETO JUDÔ EVOLUÇÃO NO COLÉGIO ESTADUAL EDSON CARNEIRO
Passando por diversos contextos a pratica do judô tem se revelado como elemento de inclusão social justificado, conforme Hassenpflug (2004 apud Antonio e Almeida, 2013 p.1), pela afinidade com a educação. Situação presente na Escola Estadual Edson Carneiro, unidade da Secretaria de Educação da Bahia localizada em São Caetano (Bairro da periferia de Salvador). Com turmas do Ensino Fundamental e Ensino Médio nos turnos matutino e vespertino essa escola se caracteriza pela escassez de recursos materiais, elevado nível de evasão e o pouco oferecimento de praticas corporais para os estudantes que contemple estratégias desencadeadoras de intervenções inclusivas. 
Inserido em um contexto em que a violência é presente os estudantes, dessa unidade escolar, convivem numa zona de alta vulnerabilidade social, baixa autoestima e o pouco acesso às diversas manifestações culturais.
Ciente dessa realidade foi realizado uma breve avaliação diagnóstica e constatado que há grande interesse dos estudantes em praticar esporte na escola. Desta forma, surge o Projeto Judô Evolução com o objetivo de elevar, através de vivências nas aulas de judô, o nível cultural, esportivo e educacional de estudantes do ensino fundamental II do Colégio Estadual Professor Edson Carneiro no turno diurno. Contemplando cerca de 40 estudantes do ensino fundamental II, no período de 09 de março de 2016 até 01 de dezembro de 2018, as aulas de Judô aconteceram no turno vespertino tendo duas aulas semanais com uma turma de estudantes do turno matutino, assim, os participantes do projeto participaram das aulas de judô no turno oposto do ensino regular.
No período de intervenções alguns aspectos foram definidos como fundamentais nesses três anos de judô na escola, são eles: Destacar valores sociais, proporcionando atitudes de cooperação e inclusão; Ampliar a cultura corporal para a formação de cidadãos conscientes e participativos; Estimular a afetividade, a tolerância recíproca, a harmonia corporal, a criatividade, o desenvolvimento de habilidades e a criação de estratégias individuais e coletivas através de situações lúdicas; Conhecer as características, fundamentos específicos, princípios e regras do Judô; Participar de eventos estudantis em que a modalidade judô esteja incluída na cidade de Salvador e região metropolitana; Valorizar características da cultura japonesa e da luta; Auxiliar no trabalho pedagógico, direcionado às melhorias no desempenho escolar e no cumprimento de metas estabelecidas pela instituição e pelo Sensei (professor) responsável; E, agir em conformidade com normas Confederação Brasileira de Judô. Aspectos esses que corrobora a perspectiva de esporte da escola abordado pelo Coletivo de Autores (1992 p. 71).
A avaliação dos estudantes participantes do Judô Evolução na escola foi processual. Na visão social e educacional foram observados comportamentos que valorizam a cooperação e inclusão, a conservação e valorização do patrimônio escolar, resultantes dos reflexos positivos nas relações com os/as colegas da turma de judô e os funcionários do Colégio e, também, nas relações escola e comunidade. 
Na visão pessoal foi verificado acentuada elevação da auto-estima dos estudantes praticantes do judô na escola, compreensão da importância da disciplina, assiduidade e compromisso nas atividades das aulas de judô, com reflexos positivos nas atividades do ensino regular. 
Com a analise do objetivo estabelecido com o Projeto Judô Evolução no Colégio Estadual Edson Carneiro, as expectativas foram ultrapassadas pois, houveram vários resultados positivos por atender necessidades do desenvolvimento das crianças e adolescentes e proporcionar a plena realização de sua personalidade física, moral, mental, social e emocional, por meio de atividades favoráveis ao vigor físico de forma lúdica. 

Seletiva dos Jogos Escolares da Juventude em 2017 no Ginásio do SESI Simões Filho/BA.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Abordar e vivenciar o judô no ambiente escolar é confirmar sua força entre as manifestações culturais e sociais da humanidade, é conhecê-lo e reconhecê-lo como possuidor de um grande poder educacional, de superação das desigualdades, do conhecimento e respeito às regras e princípios filosóficos, do fortalecimento da moral, da disciplina, do respeito e da inclusão. 
Vale destacar a importância de haver políticas públicas permanentes direcionadas ao desenvolvimento de atividades físicas e desportivas, em especifico o judô, na escola para que as crianças e adolescentes efetivamente tenham acesso a esses tipos de experiências. 

Jogos da Rede Pública na Arena Fonte Nova em 2017.




Festival de Judô Interno no Colégio Edson Carneiro.

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Anne. Ludicidade como instrumento pedagógico. Itabuna. 2009. Disponível em: www.cdof.com.br. Acesso em: 22. Jun. 2015. 
ALVES, Marielson Nascimento. Projeto Judô Evolução e Registros de vivências no Colégio Estadual Edison Carneiro 2017. Blog Vivendo a Educação na Bahia. Disponível em: https://educacaofisicaba.blogspot.com. Acesso em: 10. Jun. 2018. 
BATISTA, Marco Alexandre da Silva. A prática de judô em relação com o autoconceito, a auto-estima e o rendimento escolar de alunos do primeiro ciclo do ensino básico. Universidad de Extremadura. E-balonmano.com: Revista de Ciencias del Deporte, 193-210. 2013. 
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.
CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE JUDÔ. Engrenagem do judô alavanca desenvolvimento da modalidade no Brasil. Disponível em: http://www.cbj.com.br/noticias/3707/engrenagem-do-judo-alavanca-desenvolvimento-da-modalidade-no-brasil.html. Publicado em: 19. Fev. 2014. Acesso em: 10. Jan. 2019. 
DE SOUZA, Rodrigo Pedroso. O Judô e sua socialização nas escolas: Superando a timidez e as dificuldades de aprendizagem. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 164, Enero de 2012. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd164/o-judo-e-a-sua-socializacao-nas-escolas.htm. Acesso em: 11 dez. 2016.
FEITOSA, Caio Antonaglia; NAKASSU, Thales; FLAMINO, Amauri; ARRUDA, Eduardo Okuhara. O judô escolar enquanto prática formativa. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 153, Febrero de 2011. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd153/o-judo-escolar-enquanto-pratica-formativa.htm. Acesso em: 11 dez. 2016.
FERREIRA, José Edson Rodrigues. A importância da implantação da prática do judô no Projeto Segundo Tempo por seus pressupostos pedagógicos. Maceió-AL., 2007. 54 p. Monografia (Especialização) – Universidade de Brasília. Centro de Ensino a Distância, 2007. Disponível em: http://www.ufrgs.br/ceme/uploads/1393588697Monografia_Jose_Edson_Rodrigues_Ferreira.pdf. Acesso em: 01. Dez. 2016.
LEX, Sérgio Barrocas. Judô: Aprender e gostar é só começar. Santos,SP: Bueno Editora. 2017.
Rizzo, Marco Antonio Lima. As apropriações e objetivações do conteúdo judô nas aulas de educação física escolar. Universidade Estadual de Maringá. Programa de pós-graduação em educação: Mestrado. Maringá - PR. 2011. 204 f. Disponível em: http://www.ppe.uem.br/dissertacoes/2011-Marco_Antonio.pdf. Acesso em: 05. Dez. 2016.
VIANNA, José Antonio e LOVISOLO, Hugo Rodolfo. A inclusão social através do esporte: a percepção dos educadores. Revista brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v.25, n.2, p.285-96, abr./jun., 2011.
VIRGILIO, Stanlei. A arte e o ensino do judô. Porto Alegre: Editora Rígel. 2000.

Equipe do Judô Evolução no Colégio Edson Carneiro conseguiu ter judocas campeões em todas as categorias disputadas nos Jogos Escolares da Rede Pública em 2017.